01:59

- - -Desaparecida

Ela tem sentido saudades, tem ficado em seu canto e pensado sobre coisas que havia se esquecido já tem muito tempo. Não se deu conta do quanto tudo mudou, não percebeu o quanto já não é a mesma, e mesmo assim insiste cometendo os mesmos erros, aceitando o inaceitável, e vestindo as mesmas velhas roupas, como se fossem sua única proteção, para justificar por que tudo mudou, mas nada está fora do lugar como deveria estar. Conservando os detalhes desnecessários, ela segue tentando entender por que se esconde por detrás de seu medo inconsciente, covardia maior é não assumi-lo e se livrar dele, e dar um basta em tudo, em tudo. Do começo ao fim, e recomeçar sem medo de errar novamente.


Olha no relógio sentindo cada segundo lhe pulsar como se fosse o último e a sensação de abandono, jamais lhe abandona, o mundo está girando e ela está no centro de tudo, sozinha, assistindo as cenas acontecerem como em um filme monocromático. Dramático.

Ninguém mais tem notícias, sabe-se que ela ainda existe em algum lugar, que talvez somente ela conheça, algum vale secreto, dentro do seu vasto universo, ela continua lá viva, esperando o seu momento, vivendo da esperança, sentindo a quase morte, talvez tudo seja apenas uma questão de sorte, e ela mantém seu trevo de quatro folhas sempre por perto, com a segurança, de que o incerto ainda virá lhe despertar. Ela já não teme a solidão, tampouco a escuridão, é na luz, com todos os seus defeitos e dramas, onde ela tem medo de se mostrar.

Hoje é apenas uma desaparecida, perdida. Tentando se encontrar.