16:49

O retrato da promessa não cumprida


Celine Dion - Pour Que Tu M'aimes Encore


"Há de se fazer promessas, mas todas elas podem desaparecer, por simplesmente não nos lembrarmos de renová-las e nos fazer amar, dia-a-dia.
O amor finda. Quando semeamos e nos esquecemos de regar."



No retrato a despedida,

não feita,

apenas sentida.

Pelos fatos,
que
se sucediam.
Nos dizíamos ADEUS,
julgando ser chagada,
terna,
sem momento de partida.

O cotidiano,
dilacerava nosso peito,

já aberto,

cheio de grandes feridas.

Feitas por ti,

em mim.
Feitas por mim,
em ti.

Eram apenas cacos,
farpas,
trocadas,
jogadas.


Um velho costume,

de estar acostumado,

a não ser o que podíamos,

éramos o que queríamos.


O egoísmo,
consumia-nos.
O egoísmo,

fez-nos desistir.

Esquecermos de ser,
quem prometemos,

diante de Deus.

Você diante de mim,
e eu frente a ti.

Dissemos adeus,
pelas fraquezas,
que ganhamos.
As certezas,

que abandonamos,

junto à DEUS no altar.

O retrato,
é a despedida,
da felicidade,
que outrora,

prometemos compartilhar.

"Há de se fazer promessas, mas todas elas podem desaparecer, por simplesmente não nos lembrarmos de renová-las e nos fazer amar, dia-a-dia.
O amor finda. Quando semeamos e nos esquecemos de regar."

03:32

Cinzas de lembranças


Alanis Morrissete - Everything


"A coragem de exterminar o que nos corrói condena-nos a liberdade.
É preciso ter coragem, nos desprender do que foi, para vivermos, o que será."


Incêndio,

no sexto andar.
Lá já não havia mais nada,
mas incendiava.


Lágrimas rolavam,
mas não bastavam,

para diminuir o queimar.

Tudo se transformava em cinzas,

não existia mais nada.


Ouvia-se
gritos.
Não havia ninguém,
estava vazio.
Apenas uma caixa.

Lágrimas rolavam,
mas não bastavam.
Não faziam cessar o queimar,
do que restara.
A caixa.

Eram gritos e lágrimas,
lágrimas e gritos.
Silêncio.

Apenas ela ouvia o gritar,

desesperado, estridente.

Enquanto caixa era consumida,
pelas chamas,

onde guardara tudo,

que mais lhe valia.

Cinzas-Cinzas-Cinzas

Sem cor cinza,

negras como vazio.


A voz que escutara,
era a despedida.

A morte do que vivera,

e se ressentia,

por não mais vivenciar.


Viviam presas,
naquela caixinha,

as lembranças,

que decidiu matar.


Assassinou-as,
uma morte dolorida,
tal qual, a dor que sentia,
toda vez ,

que se permitia relembrar

Ateou fogo,
no sexto andar.
Onde morou,
com suas lembranças.


Não lhe bastou apenas,
dar adeus a vida que teve.

Ela precisou assassinar o passado,

para poder recomeçar.


Havia fogo,
no sexto andar.
Culpada,
pela morte,
do que a torturava.

Condenada,
a liberdade perpétua.
Que apenas os assassinos,
de dores,
podem gozar.

...Houve fogo,
no sexto andar...


"A coragem de exterminar o que nos corrói condena-nos a liberdade.
É preciso ter coragem, nos desprender do que foi, para vivermos, o que será."

05:27

AMOR e dor

Sarah McLachlan - I Will Remember You


"O medo de sofrer, não nos deixa amar,
cala-nos diante do que sentimos, e nos prende no futuro de frio e solidão."




Eu lhe neguei,
e a cada não,
meu peito,
dizia sim à solidão.
Aceitava o medo
ignorava meu desejo.
Sentia o ardor,
queimando meu coração.
Em meu corpo,
tudo era nada.
Tremor e frio,
deserto e aflição.
Queria-te,
te-queria.
Amava-te,
olhava-te.
Não o tinha,
guardava meus sonhos,

para dizer-lhe,
sobre o amor,
que vivo estava,
pulsando.
Trago comigo,
as memórias
Do amor não dito,
e a pessoa perdida.
O sonho concreto,
pura desilusão.


"O medo de sofrer, não nos deixa amar,
cala-nos diante do que sentimos, e nos prende no futuro de frio e solidão."

21:28

O companheiro desconhecido



A princípio tudo era,
flores,
amores.
Juras inconscientes,
ardentes.

Vivem no presente,
solidão.

Acompanhados,
pelas lembranças.
Das madrugadas,
que morriam,
e viviam,
juntos.

Os gozos,
noturnos-diurnos.
Eram parte,
de uma imensidão.

Já não se tocam,
nem se olham.
Não se beijam,
nem mais se queixam.

São figuras desconhecidas,
que co-habitam,
um espaço chamado,
casa-quarto-colchão.

Entre eles,
já não há mais,
o ardor que desatina.
Que os obriga a fazer juras,
prendendo-os,
corpo-coração.


19:45

Mulher de pedra


Ela já teve um coração,
que no passado,
batia forte e ritmado.
Hoje seu coração é marcado
pelas dobras,
-do tempo,
-do vento,
-da solidão.
Sentiu o tato,
macio,
que a desejava,
com fervor de paixão.
Hoje tens,
-superfície fria
-asperezas.
-calos de certezas.
Havia nela tamanha perdição.
Ela já teve um coração,
que no passado.
batia forte e ritmado,
levado pela valsa da emoção.

18:51

Espero-te



Acorda-me,
do mundo dos que nada querem.
Não me deixa ainda que à respirar,
em estado de inércia.
Esperando pelo inesperado.
A mercê desta vida,
que tenho tido para mim como esquecida.
Lembra-me,
que ainda estou viva.
Sou aquela maria bonita,
que por tanto tempo te amou,
amou,
sem saber não amar.
Era eu quem o tinha,
como ser pródigo,
que jamais se ausentaria.
Tome comigo,
o cálice do despertar.
Desperta-me,
para a vida que cessou,
ao fechar da porta,
que você passou,
ao se retirar,
de minha vida.
Volte,
nem que seja,
para me lembrar,
que ainda sou capaz de amar.
Ainda que não sintas,
no silêncio do meu eu,
suplicas incansáveis,
são ditas sem falar.
Estarei a lhe esperar...
...Venha me acordar.

17:03

O vestido vermelho de Monalisa


Sexta-feira, já passadas as 22:00(pm), perambulando pela Avenida Teodoro Sampaio. Monalisa, com seu andar pouco espaçado, seu olhar resignado de um dia de muitos problemas. Tantas dores de cabeça, caminhava, calmamente, como quem tinha a noite inteira pela frente e com esta mesma paciência, procurava por algo, que encontraria por este caminho. Monalisa, sentia-se, cansada, mas com uma imensa vontade de se ter de volta, como se um pouco dela tivesse ficado por entre a correria de seu dia.

Monalisa vestia, um grande casaco, com ar europeu, preto, quente, e por de baixo,um vestido vermelho, de seda. Nesta noite fazia um frio agradável, mas ela preferia manter-se muito bem aquecida, pois o frio maior, era interno, a falta de si, a falta de algo. Transformava-a em alvo, para os ventos que faziam. E a transpassavam, tamanho era, o vazio.

Sem um rumo, sem um ponto de chegada, um objetivo. Monalisa continuou a caminhar, com a mesma calma, mas agora com algumas lágrimas no olhar, pois uma sensação imensa de solidão a tomou. Via tantas pessoas, amantes, amigos, se perdia nos sorrisos, os tantos que encontrou, por seu caminho, e bateu-lhe uma sensação que nunca havia sentido, como se não fizesse parte deste mundo, e não houvesse uma alma se quer que tanto a quisesse, como as pessoas sorridentes "se queriam". Monalisa, sentia-se triste, mas continuava a atrair olhares, não para as suas lágrimas, nem para sua feição entristecida. O seu jeito de mulher que sabe o que quer, fazia as pessoas a repararem, e a sua beleza, sobre esta, pouco se comentava, pois calava através de tamanha sensualidade e suavidade. Monalisa, apenas queria esquecer quem era, e as tantas pessoas que a viram, sem ela sentir que era observada. Queriam exatamente o oposto, jamais esquecê-la, pelo quão ela os encantou.

Monalisa...
...Sentou-se em um banco de ponto de ônibus, que pelo adiantado da hora já estava vazio, e olhando os carros passarem em alta velocidade pela avenida, via, apenas suas luzes. E estas a iluminavam e para aqueles que rápido passavam, ela não ficava desapercebida, iluminada por eles, era notada, ela apenas não sabia.
Sentada neste banco, sentiu o frio em seu rosto, olhou para o céu, noite de céu limpo, estrelado. Noite de outono, sem chuva. Questionou, a angustia que sentia, a dor que a tomava, e porque não à entendia, o seu dia, fora incomum, e nesta noite carregava consigo uma dor imensa, de uma perda que não era sua, um filho e uma mãe, que partiram. Monalisa era médica, lidava com a vida. A vida dos outros, a sua estava esquecida, mas nesta sexta-feira, perdera em um parto, a Mãe de um filho, que não chegou a nascer, os dois partiram... E ela tivera que dar a notícia para o pai, que sofrendo a abraçou ao receber a notícia, e à agradeceu pois acreditava que ela, tinha feito o possível para que tudo ocorresse bem. E aconteceu nada mais do que a vontade de Deus. E fora exatamente isto, ser a porta-voz dessa notícia, a primeira vez, em que perdia, para o que não conhecia, perdia a chance de salvar estas vidas e percebeu que não salvava vidas, pois se assim fosse,teria feito o que tantas vezes, fez, e percebeu que nada estava sob seu controle.Ela apenas era uma médica, instrumento para a vida, ou para chegada da morte e percebeu não ter se preparado para ser tudo isso, e não sabia onde encontraria forças, para ser o que realmente tinha que ser.

Por alguns bons minutos Monalisa ficou sentada, e este tudo passando pela sua cabeça, mas entre os questionamentos que fazia sobre si, sobre a vida, sobre o Deus que desconhecia, e tinha levado para a morte, uma mãe e um filho. A todo instante lhe tomava o pensamento o homem, que tão consciente a agradeceu, mesmo quando ela havia permitido que sua esposa e seu filho morressem. Sua maior vontade era de ser tão serena quanto àquele homem e entender de onde surgia, tal serenidade.

Ela voltou a caminhar, ainda pensando, no homem, em sua serenidade, em seu olhar de solidão, mas contudo fortaleza, mesmo em um momento de tanta dor. Monalisa, respirava com dificuldade faltava-lhe o ar, sentia-se culpada, impotente, pequena. Diferentemente do era, antes deste dia, mas depois desta noite, com certeza tudo novamente mudaria. E seus passos ficaram, rápidos, tensos, espaçados, sua boca ressecada, pelo vento, frio e seco.Seus olhos, cobertos por lágrimas, seu cabelo, ao mesmo vento, balançava. Ela tinha pressa, de cessar essa dor, essa sofreguidão, estas dúvidas...

...E ao atravessar de uma calçada para a outra, fora da faixa de pedestres, correndo de carros, trombou na calçada que chegara. Trombou, com força que a colocou a ir ao chão. Abriu os olhos e estava estendida, sobre ela um homem que embaçado via, e que lhe perguntou...
"Doutora, você está bem?"...
Monalisa recuperou a visão, devagar, fora reconhecendo, ela estava de frente com o homem que tanto lhe roubava o pensamento, o homem que a fez questionar o que jamais havia questionado, o homem que esperava que seu filho chegasse ao mundo, e que em pouco tempo tornou-se viúvo, tornou-se, um quase pai, tendo seu filho falecido, assim que nascido. Era ele mesmo, que à levantou do chão, Monalisa, ainda tinha os olhos avermelhados de alguém que chorara, o olhar resignado, e ao vê-lo apenas pôde pensar"A vida é cheia de coincidências, acasos". Achou algo, muito impressionante, encontrar justo o homem, cuja a história tanto lhe desconcertou.

Monalisa recuperou-se do tombo, levantou-se com a ajuda do homem, mas não o olhava nos olhos, ele preocupado, pois viu que no joelho dela havia um machucado que sangrava, lhe ofereceu cuidados, mas ela prontamente respondeu saber que aquilo não daria em nada, ela era Médica e um corte, não precisava de tanta preocupação, apenas alguns cuidados e tudo estaria bem. Ele perguntou à ela, se ela se recordava dele, e sem jeito, com o olhar cabisbaixo, respondeu que sim e disse, você é o pai, que hoje de manhã, tive a infelicidade de perder sua esposa e seu filho. Qual é o seu nome mesmo, ela perguntou. Ele respondeu, Leonardo. Monalisa dizia sentir muito pela perda que ele havia tido, e que sentia como nunca. Houve um silêncio que os acariciou neste encontro. Ele disse, que desejava que ela estivesse bem, pois sentiu nela, uma tristeza infinita, que não deixava que os seus olhos brilhassem. E disse mais, Leonardo, disse a Monalisa, que se sentia agraciado por Deus, mesmo com a partida de sua esposa, e de seu filho, ele sabia que tinha que ser assim, que pelos dois havia muito amor, saudade e tristeza, por não poder viver junto deles, mas sobretudo, explicou à Monalisa que sentia, que os dois, estavam bem, e que agora, era a hora dele, começar a a reagir a vida, a vida que Deus escolheu à ele. Monalisa, silenciava, pois em momento algum entendia de onde partia tamanha serenidade, ou seria tamanha indiferença. E sem saber o que passava pela cabeça dela, Leonardo dizia, que tinha o maior amor do mundo, por sua esposa, era casado à 16anos. E que esse filho, era muito desejado, mas que sobretudo, ele amava a Deus e confiava, nos caminhos que ele traçava, e essa confiança, é que trazia à ele a paz necessária, para seguir, sentindo sua esposa e seu filho, como anjos, que Deus, encaminhou para estar ao seu lado.

Doutora Monalisa, era como ele a chamava, à convidou para tomar um café e conversar, disse que se sentiria bem se pudesse, cuidar de seu machucado. Ela perguntou à ele, se morava perto dali, ele disse que sim, Rua Purpurina, próximo a Teodoro, onde eles estavam. Ela, sentiu-se bem ao falar com ele, mas ainda não havia o olhado nos olhos, e depois deste convite, ficou ainda mais sem graça, não queria ir à sua casa, estava abalada, recusou dizendo, "Obrigada Leonardo, mas acho melhor ir para onde estava indo", ele a questionou, se realmente havia um destino, e ela se lembrou que não havia, nem um lugar e nem alguém à espera dela. A busca era por findar a angustia. E por se lembrar disso resolveu aceitar, ele apenas fez-lhe uma pergunta. "Doutora, por que não me olha nos olhos?"... E ela respondeu em silêncio, deixando escorrer lágrimas...
...Que não queria demonstrar sua fraqueza, não queria deixar com que ele se perdesse na dor que ela estava carregando, na culpa que ela sentia, e contou à ele, dizia estar em um poço escuro e sem razões, não queria que ele se perdesse junto com ela, disse que estava desolada, relatou que nunca havia perdido uma paciente, nunca havia perdido um filho, e que por suas mãos, apenas havia trazido a vida, e esta morte que chegou através dela, havia à deixado completamente longe de si, sem saber, o que de fato fazia naquele hospital, o que fazia com a sua própria vida, se não havia um controle, se não sabia, o que seria o amanhã...

Leonardo apenas a olhou, pegou em seu braço e foi a encaminhando em silêncio em direção de sua casa. Lágrimas rolavam dos olhos de Monalisa, era um choro que por toda à noite ela segurara, um choro de criança que se sente perdida,com medo do escuro, do desconhecido, e era exatamente isso. Monalisa, havia conhecido a morte e a sua impotência diante dela.

Chegaram à casa de Leonardo, uma casa cor de rosa, portão de madeira, um sobrado. Com ares clássicos, jardim, chafariz, janelas robustas e um ar bucólico, ímpar no meio da cidade de São Paulo, foram entrando. Leonardo acendeu a luz, e Monalisa, entrou, tirou o casaco, o vestido vermelho ascendeu-se junto com as luzes da sala de estar.

Monalisa, viu na parede da escadaria, uma grande quadro, onde havia sido pintada, Fátima, esposa de Leonardo, e se lembrou de seus olhos brilhando quando mesmo em últimos suspiros pôde dar um beijo em seu filho que estava nas mãos de Monalisa, e baixinho disse. "Irás comigo, meu anjinho", fechando os olhos e dormindo o sono eterno e logo após, seu filho, calou o choro angustiado, partindo junto dela.Monalisa, se desesperou chorando, Leonardo à abraçou...
...Dizendo à Monalisa, chore, pois você precisa, mas lembre-se de que estou aqui, e ainda em soluços, Monalisa lhe disse, eu deveria acalentar seu coração, trazer-lhe palavras, foi você quem perdeu...
...Leonardo, à fitou fortemente e lhe disse, não ter perdido absolutamente nada, sua mulher e seu filho contigo estariam sempre, estava rico em amor e a dor que sentia, era passageira, pois sabia, que tudo aconteceu como tinha que ser, saudade teria, dos cheiros, e dos sorridos que Fátima, rigorosamente não lhe negava, mas disse também ter tido muito tempo e não tê-lo desperdiçado, e em cada momento junto dela, a beijou, a cheirou, a olhou, como quem à olhava pela última vez, com vontade de grava-la junto de si, e assim o fez, pelos 16anos de casamento, gravou um pouco de Fátima em seu corpo, em sua alma, como uma tatuagem que ninguém arrancaria, nem mesmo o tempo, nem mesmo a morte.
Monalisa suspirou...

...Chore Doutora, dizia Leonardo.
"Pois você conhece a ciência,e acaba de se deparar com o amor, com a vida que não se explica, com a vida que finda aos olhos, mas se eterniza ao coração. Chore doutora, pois as máquinas, podem manter vivos àqueles que ainda precisam viver, mas não fazem milagres, nem as máquinas e nem seus estudos, sua ciência auxilia Deus, é parte dele, não tens culpa dos que morrem, mesmo que estejam em suas mãos, ainda que não veja, eles estão na mão de Deus, e ele é quem decide, quem vive ou não, és apenas intermediária deste caminho, cuida dos que vivem, dos que nascem, mas esta sempre diante da morte, que todos passaram, cada um em sua hora, sinto por tão breve ter sido a partida dos que amo, mas tudo tem um porquê, tudo sempre, tem um porquê, acredite."

Monalisa, o olhou...
...Dizia à Leonardo, não saber o que era, achava poder cuidar e não admitia a idéia de perder um filho, uma mãe, até que perdera, e viu, que a vida é muito mais do que nascer, vida também é morrer, mas não entendia...
...E tão sabida, cheia de explicações científicas, após o que passou, ela apenas buscava se encontrar, encontrar àquele que tudo via, tudo sabe, aquele que a criou, ela buscava o que desconhecia, pela dor que sentia e a sua impotência, diante da vida, e suas surpresas.

Leonardo, ofereceu a Monalisa, suco de goiaba, ele se ausentou ao ir buscar na cozinha, trouxe à ela, que o tomou. Perguntou, se ela não gostaria de conhecer a casa, e ele disse que gostaria muito que ela fosse.
Eles foram, caminharam pelos cômodos da parte inferior, todos limpos e organizados, subiram as escadas, flores no corredor, um silêncio entorpecedor. Ele mostrou à ela, os quartos, todos clássicos, eram 4, por último mostrou o que seria de seu filho, já vazio, e o quarto que era dele e de sua esposa, um quarto espaçoso cheio de retratos, ela submergiu em meio de tanta felicidade que lá havia. As fotos registraram cada momento de felicidade, de amor, de vida,ele disse "Fomos tão felizes, que acho que seria egoísta, injusto se me permitisse, apenas lamentos, olho para trás, e tudo que vejo é perfeito". Monalisa, deu-lhe um sorriso tímido,e seus olhos, ainda vermelhos, iluminaram-se. Leonardo, à levou até a biblioteca, uma sala encantadora, ainda mais serena, ainda mais calma, reduto de conhecimento, tantos eram os títulos que ele tinha lá...

...Monalisa, o questionou, perguntou à Leonardo,se havia lido todos os livros que lá haviam, ele a respondeu com um balançar de cabeça, dizendo que sim, ela ficou encantada.
Leonardo, passou a folhear um livro, sentado em sua poltrona, Monalisa em pé passava a mão na estante e andava de um lado para o outro em silêncio...

Leonardo direcionou a ela, um suspiro. E lhe disse "aqui tenho conhecimento, mas sobretudo sentimento, Monalisa, aprendi a sentir a vida, que pulsa, em mim, em você. Eu descobri que meu corpo, é uma máquina linda, que suporta, algo ainda maior, minh' alma, e que devo cuidar dos dois, mas minha alma precisa se alimentar, alimento-me do que aprendo, do que sinto, do que transmito, busquei conhecer os homens, suas ciências, mas o que cada um é capaz de sentir é o que me seduz, sua dor me tocou, eu pude vê-la, ao momento em que deu-me a notícia."

...Monalisa, o olhou. E perguntou à ele, se além de dor, algo mais ele sentia nela.
Leonardo, calmamente, pegou uma folha em branco, dobrou diversas vezes, e foi dizendo à Monalisa, que ela era tão complexa quanto todas aquelas dobras que não apontam para forma alguma, mas que ao final delas, marcas foram deixadas, dentro da linda pureza que nela existia, um misto de pureza e vazio, e marcas criadas, pelo o que ela buscava fazer, e por tudo que ela se colocava a não sentir. E finalizou, completando com uma frase "A vida não é cientificamente explicável, há o que se explica, mas em maioria, apenas há o que podemos sentir."

Monalisa calada, sentou-se próxima à poltrona de Leonardo, tocou em suas mãos, como quem buscava aquilo que não tinha, e no momento era sentimento.
Leonardo à olhou, passou a mão em seus cabelos, e disse que o vazio de vida que havia nela, era incomparável com a dor da perda, pois ele havia vivido, amor, felicidade e viveria ainda mais acalentando pelo amor de Deus, aquele que ele tinha como fortaleza e que o fazia jamais sentir-se só...

Monalisa, chorou...
pensando exatamente, no que não tinha, e o que ela não tinha, era um sentimento maior sobre a vida, menos cético, algo que a fizesse sentir, viva, amada, e acabara de ouvir isto de um homem que perdera, tudo que mais amava na vida e ainda assim, sentia-se amado, ele tinha o que ela não tinha, Deus.

Leonardo, colocou-se diante de Monalisa, olhou-a e viu, seus olhos aflitos, cheios de lágrimas, tristes, vazios.
Ao redor deles, livros e ali tudo que ele havia descoberto sobre a vida, ambos dentro do lugar onde ele passava horas refletido, buscado o algo mais que hoje, o fazia sentir-se em paz, consigo, com Deus, com o mundo, mesmo que sozinho.

Frente-a-Frente com Monalisa, Leonardo, secou as lágrimas que escorriam de seus olhos, quase pretos. Lágrimas que se davam por sentir-se vazia, de tudo, sentir suas certezas desaparecendo por entre a vida e seus segredos, seus sentimentos.

Dedos molhados por lágrimas. Leonardo, os passou nos lábios de Monalisa, e disse em seu ouvido "Este é o gosto do teu sentimento que hoje é dor, tristeza, quero compartilha-lo contigo..."
Leonardo beijou a boca de Monalisa, da forma mais pura que poderia haver, e mais lágrimas correram, Monalisa, sentia algo que jamais havia sentido. Sentia-se protegida, como nunca, nem em seus tempos de criança, houvera uma noite de tanto medo,e tampouco uma proteção para tudo que a aterrorizava.

Com os olhos fechados, Leonardo e Monalisa, se elevaram à entrega, bocas unidas, sentiam os gostos,uma mistura de dor, tristeza, amor e saudade.
Mãos espalmadas, percorriam os corpos, ele desvendou o seu vestido vermelho, e a despiu calmamente, deixando que a seda deslizasse nas curvas do corpo dela. Monalisa, sentia não mais o frio de outrora, agora sentia-se aquecida, pelo sentimento, que fluía por entre ela e Leonardo. Ela, com suas mãos finas, abria os botões da camisa preta de Leonardo, sentindo no silêncio a sensação de plenitude que ele transmitia. Corpos nús, ela o sentia, uma fortaleza descabida, e ele a tinha como uma menina, que naquele momento se tornava uma mulher, sentia a solidão diminuir, entre medos, tristeza e saudade, fizeram-se apenas necessidade. Ela precisava dele, de sua serenidade, de seu sentimento e de sua paz.
...Ele precisava ser dela.

E dentro da biblioteca, se entregaram à vida, que com suas curvas sinuosas, precisava, fazer de Monalisa, um ser mais intenso, e de Leonardo, um homem ainda mais abençoado, dando lhe a oportunidade, de ser o amor que tivera, o amor que aprendera a ser...
...Leonardo e Monalisa se amaram, junto dos livros, e de todos os sentimentos, amaram-se como dois amantes quietos, dois amantes que se tomam com a calma de quem tem toda uma vida pela frente, e juntos, desfrutaram da mais forte sensação física, calaram-se em suspiros, pausaram pensamentos.

Monalisa, sentiu seu corpo inebriado, por um sentimento complexo, o qual não definiu, e pensou "Encontrei o que procurava, o fim de minha dor está onde ela começara...", respirou ofegante.

Leonardo, com o corpo, trêmulo e cansado, olhou para Monalisa, viu seu semblante, mais calmo, sereno, sentiu-se bem. E disse à ela, "descobri que ainda estou vivo além de meus sentimentos. Meu corpo, pulsa a vida que eu dizia conhecer e eu dei ela à você..."
...Lágrimas escorreram pelos olhos de Leonardo.
Monalisa o olhou, perguntou à ele o porque chorava.
Leonardo deu a mão a Monalisa e lhe disse, que buscava a vida além dele, pois todas as que tinha, haviam findado, e não saberia viver um único dia, sem sentir-se vivo, da forma que sempre se sentiu.O amor que recebia, alimentava a vontade dele de ser.

Monalisa e Leonardo, naquela noite se completaram...
...Ele deu à ela a vida desconhecida, de amores e razões, através de sua alma, e de seu corpo, que ela tomou para ressuscitar do esquecimento, ela fez o seu coração voltar a bater, salvando mais uma vida, que em tempo, logo se perderia...

Deus sabe o que faz, disse Leonardo à Monalisa.

...Após uma noite de frio, e tantas surpresas, Monalisa, despertou em um novo dia com um belo sol e ventos. Levantou-se, ambos dormiram deitados no chão por entre livros. Pegou uma flor de seu corredor, e na folha que ele havia dobrado, escrevera em preto.
"A folha agora é limpa e sem marcas, possuí apenas uma, que divide a pureza que sou. Entre vida e amor."
Deixou o bilhete sobre a bíblia de Leonardo.
Monalisa, vestiu-se com seu vestido vermelho, deixou seu casaco preto, e tomou o rumo de sua casa, caminhou pela Teodoro Sampaio ás 11:00hrs, sentindo o vento bater em seu corpo, com um sorriso calmo nos lábios e certa de onde iria, agora caminhava de encontro à vida.

Monalisa, passou a confiar em seu descontrole sobre a vida, jamais voltou a questioná-la, apenas caminha por ela, como caminhava naquela noite, já passadas as 22:00hrs...
...Mas nunca mais precisou encontrar-se com outro Leonardo.
Monalisa, jamais o esquecera, ele à apresentou ao que é o amor.

18:40

Com tanto amor,diga-me ADEUS


Contanto que me digas adeus,
eu o deixarei ir,
o deixarei partir,
mesmo se for sem mim.
Com tanto amor,
sua partida,
dilacera-me.
Faz-me querer,
faz-me sentir,
não mais amor,
apenas saudade,
e um tanto de dor,
uma dor que me consome,
que me toma,
deixando-me pela metade.
Contanto que não me esqueças,
que eu ainda esteja,
pulsando vivo dentro de ti.
Acalenta-me,
e digas,
que contigo estarei,
contigo irei,
por toda vida,
seguiremos.
Juntos,
como outrora fomos,
oriundos,
dos mesmos sentimentos.
O infinito,
bem querer de sermos.
De saudades nos faremos,
amor eterno-terno.
E nossa história,
será composta,
pelas idas e vindas.
Haverá sofreguidão,
em minha alma,

desejo de te encontrar,
e sentir-me amada,
abraçada.
Remanescer,
de seu abandono,
E perpetuar meu sorriso,
incontido,
que lhe roubava risos,
em todo amanhecer.
Para sempre sua,
mesmo que se vá.
Contanto,
que diga-me...

...ADEUS!




"Amores eternos existem, duram até o ADEUS,e fazem-se maiores, melhores, e a ligação entre os seres continua, perpetua...
Contanto que digas ADEUS, estejam juntos para se despedir, que tinham construído suas vidas, em paralelo, serão, sempre um do outro, amores perfeitos, amém."

03:51

As suas asas


Quero que tuas asas,
tragam a mim a liberdade,
que eu não tenho,
quando em terra,
piso.
Subverto, e inverto,
o meu mundo,
o meu grande abismo.
Divindade que não sou,
quero tuas asas,
e teus milagres,
os olhares de piedade,
que não tenho.
que não tenho.
A piedade que não sou,
quando a vida me cobra,
um único milagre.
O amar, sem ser amado
Devo voar,
mesmo que sem asas.
Elevar meus sentimentos,
outros tantos pensamentos.
Quero tuas asas,
ir para longe daqui,
deste mundo de faz de conta,
que conta,
uma história louca.
Onde todos se matam,
por conta,
de apenas um não.


"Dentro de certos seres, existem anjos, e as suas asas, seus sentimentos, nos permitem, amenizar dores, sofrimentos, levam-nos a mundos diferentes do que vivemos, basta, estarmos sensíveis para sentí-los.
Seres que julgamos comuns, tem dons, e suas asas nos tira de abismos que criamos, e neste mundo de cinzas, tona-se memória triste e o qual não iremos querer jamais regressar."

03:47

Menininhas


Ana Maria, apenas queria. Eram tantas coisas, que nem ela, dona das vontades, as sabia.
Menina, que acreditava, ser docê, e possuir um olhar meigo, mas isso fora a algum tempo,
Ana Maria, não percebera, as suas maravilhas, pois seu encanto imaginário, estava em ser a menina, idealizada. A menininha, aquela, que anda de tranças, que corre descalça, que toma chuva sorrindo e brinca de terra sem cessar. Ninguém a olha, não a nota, assim ela se via, um personagem, que faz histórias, todos conhecem, mas ninguém, jamais irá à tocar. Mal ela sabia!

Andando pelas ruas de sua vila, depara-se com uma pedrinha, abaixa, e à apanha, suspende seu olhar, os retirando do chão, e os elevando, a dois pés, com botinas, lindas e amarronzadas. Ergue mais o seu olhar, uma calça, jeans surrada, proposital ou não, era vistosa, clara, charmosa. Uma camiseta branca,um pouco mais acima, simples, lisa, limpa, cheirosa, um aroma, masculinamente selvagem, mas que não detectara no momento, apenas, sentiu-se arrepiar, após o aroma entrar por suas narinas.

Ana Maria, que ao caminhar, estava cantarolando "Eu vou... eu vou... pra casa agora eu vou...", cessou ao ver a pedrinha, e neste momento, de encontro com aquelas botinas, a surrada calça, e a limpa e cheirosa camiseta branca, depara-se com um olhar, verde, verde, mais do que verde, era brando, ardente. Cabelos negros, lisos, curtos, nariz afinalado, sorriso de boca vermelha, com carne, dentes alinhados, esbranquiçados...

E a pedrinha que era tão bonita, tornou-se feia, diante de tanta beleza.
Ana Maria, olhou, silenciou...
...Aquele olhar, mais do que verde, penetrou-a de forma avassaladora, sentiu-se dominar, pediu licença. "posso passar"?
Uma voz de timbre, grave, direcionou a ela, uma cantada, coisa que jamais havia recebido.
"Não a deixarei passar por minha vida, sem tirar-lhe o fôlego, ao enchê-la de amor"
(Não é que além de belo, o rapaz cujo o único defeito é usar botinas, ainda é poético!)

Ana Maria desentendida, apenas desejava passar, ou será, que desejava ficar, mais, para poder sentir aquele cheiro, de algo que desconhecia, cheiro de vida, cheiro dele, que desejava levar para sempre com ela. Qual o seu nome ele perguntou. Ela prontamente respondeu, com voz aflita, porém contundente.
-Ana Maria, e o seu?
Ana Maria, é um belo nome, tal qual a pessoa. Sobre o meu, me chame como quiser. - Como quiser? ela o perguntou.
Ele dizia a ela, que deveria chamá-lo como quisesse, pois ele desejava ser, o que ela queria, ou o que ela já teve e não mais tinha. Assim seria um pouco dela, e ela um pouco sua, seria.

Ana Maria, com a pressa, de uma criança, terrivelmente amedrontada, estigada, mas com medo.
Disse ao rapaz de botinas, que precisava continuar seu caminho para sua casa, pois era lá o seu destino. Segurada pelas mãos, alvas, frias e suaves. Foi questionada. Não desejas ter o que queres, ele se oferecia a ela. E diante de tal oferta Ana Maria, disse que não desejava ter o desconhecido, e que sentia medo, deste tal, de olhos verdes, e se mexendo pediu para que ele a deixasse.

Não contente, pediu a ela, mais alguns minutos de conversa. Embreagada pelo cheiro, que dele vinha, não negou. E a oferta se repetiu, Ana Maria, eu posso ser o que você quiser, Pedro, Paulo, Gabriel, Lourenço, ou apenas "botinha" (expressão que indagou ao dar de cara com as botinas do rapaz, quando pegava a pedrinha no chão).

Menininha Ana Maria, era tudo que imaginava, mas já brindava os 15 anos de vida, debutara a pouco, mas era para si, sempre aquela menininha, que corria e subia nas laranjeiras, as descascava e as chupava, sujando-se inteira. Lembrou-se do pé de laranjeira da vizinha, furtou da atenção ao rapaz de botinas, e disse que se encaminharia para sua casa, e que ele a acompanhasse, se assim quisesse, conversar.

Deram alguns passos, quietos, calados, o questionou. Disse se ele iria realmente a acompanhar, e ele disse que sim, que precisava.
Então intrigada, ela disse Lourenço, assim você será!

Caminhavam, por uma rua vazia, sentaram em um gramado extenso e conversaram, ele a olhava nos olhos, e ela falava sem cessar, de tudo que queria para a sua vida, desejava ser professora de escolinha, lecionar, para as criançinhas que a chamariam de tia. (A tia Ana Maria)!

Mas falou isso com lânguidez, em seus olhos tão vivos. Ele a perguntou, por que triste ficou, ao falar de algo que queria tanto, ela suspirou, e remeteu a distância, dizendo a ele, que muito tempo faltava, e águas em sua vida, haveriam de rolar, ela era muito jovem, criança.

E outros sonhos, comentou, sem parar, falava. O timbre manso de sua voz, o fazia, acalmar.
Ele a fitou, firmemente, com aqueles, olhos verdes, mais que verdes. E a calou.
... Beijou-a, um beijo terno, macio e quente, bocas cerradas, molhadas. Que foram se envolvendo, aquecendo ainda mais, fazendo-se oceano, de algo estranho que ela sentia a penetrar.

Ana Maria, com os seus olhos fechados, pensara em tudo, e o que estava sendo, este beijo...
...Deste seu Lourenço, que idealizou, sendo filho de fazendeiro, homem estudado, letrado, amável, ombro bom de se deitar.

O Beijou, perdurou, realmente a calou, a fez delirar, sentiu as mãos ásperas, de Lourenço tocarem suas costas, apertarem sua cintura, a comprimirem junto a ele, peito nos seios...
Nos seios... suas mãos escorreram, e ela sentiu-se deliciar por uma sensação oportuna. Um desejo de ser para ele o que ele quisesse. E entendeu neste rompante de desejo, o que ele sentiu por ela, e ficou deslumbrada, por ter despertado, o que jamais havia sentido, ou se quer, sabia da existência, de tal sensação, tão suculenta.

Ana Maria, a partir de então, o queria.
Sucumbiu a mais uma vontade, a vontade de ser Ana, ou Maria, quem sabe apenas a Menina, mas que fosse o que quisesse, o seu Lourenço.

...
Minha filhinha, acorde, Ana Maria, é hora de levantar o sol já nasceu a tempos, está no céu e está imenso. Era o que a sua mãe lhe dizia, para ela acordar.

E depois desse, dia, desta noite, das botinhas, a pedrinha, e Lourenço,
Ana Maria, nunca mais foi menininha, e já sabia, o que queria, queria muito, como tudo, sem parar!



"Existem Anas, Marias, Lauras, Sophias, haverão, Marissas, Leticias e Larissas...
Estes sonhos, que as fazem, tornam-as mulheres, e não percebem, desejam o que desconhecem, e brincam de conhecer, os ímpetos, seus amados desconhecidos..."