23:24

O menor adeus

Não me venha falar sobre amenidades; tenho precisado de verdade, do sopro de vida constante que fortalece a imaginação, que transforma em ação aquilo que não se parece com nada, mas que mesmo assim faz algum sentido.

Tenho sentido calafrios, e tenho morrido todo dia de saudades, mas isso é quase a minha maior vaidade, o desejo de ainda ser quem eu um dia fui, e o apego de acreditar que você nunca mudou, que não foi embora sem me dizer adeus, e que por fim me frustrou como tantos outros já fizeram, você não, eu não seria capaz de aceitar tal fato.

Vou seguindo inventando um falso descaso, mas por dentro me lamento, vou me remoendo, acreditando que um dia, você virá a mim aflito falando sobre amor, e tudo aquilo que acreditávamos. Por hoje não me fale sobre amenidades, quero sentir por você a mesma vontade, que tive um outro dia, um outro ano, uma outra vida, talvez.

Você se foi, e eu fiquei, restaram apenas metades, que não se moldam, que não se unem, que não se completam, ficou apenas um esboço do que fui um dia, ficou apenas a vontade bendita, e o pecado cometido.

Dizer Adeus, será minha tarefa mais difícil.Impossível.

02:03

- - - Espelho da verdade

Inerte a se observar, olhos no espelho, olhos atentos em si, eram tantos os pensamentos que por mais que tentasse não conseguia desviá-los. Já fazia um certo tempo que não se interrogava, e esta era uma tarefa mais do que necessária para tentar entender até qual ponto tudo que se tem feito, tem feito algum sentido. As escolhas que fazemos só devem nos levar a um sentido, a direção deve ser a evolução enquanto seres, e se não for assim, é melhor dar um basta e repensar em tudo, mesmo que isso não seja muita coisa. Ela ainda se observava com os olhos sedentos para saber sobre si, mas as questões a serem levantadas ainda estavam presas em sua garganta, junto com o choro que estava teimando em brotar em seus olhos nitidamente vermelhos de vida.

Parada entre o espaço da pergunta e o medo da resposta. Os olhos sedentos. Lágrimas que não mais tímidas escorrendo por seu rosto novo.
Quais seriam as perguntas, ela já não mais as sabia, as engoliu junto com o nó que estava na garganta e se soltou, sim ela chorou, o choro mais sincero de toda a sua vida, angustiado, desesperado, clamando por si, chorou sem ninguém ouvir. Essas lágrimas, só ela sabia mas eram as respostas para tudo o que mais temia. Ela só conseguia sentir, o peso de ter sido quem deveria e não quem queria, chorou destemida como nunca mais fez desde quando resolveu se tornar alguém simples demais para ser entendido por qualquer pessoa, ela optou por se fazer entender, e não mais ser entendida, mas agora, ao olhar no espelho, se sentia perdida, sem compreender o que via, era apenas um rosto com lágrimas que diziam mais do que qualquer outra expressão de si. Havia passado algum sorriso sincero por ali?
Haveria ela amado com o fervor de um apaixonado? Haveria ela chorado todas as vezes que precisou? Haveria ela se calado tantas vezes que queria ter gargalhado? Haveria ela existido ou apenas vivido como alguém que não terá mais do que uma medíocre missão. Ser mais uma entre milhões, ser um ser sem alma, sem liberdade, sem história. Haveria ela deixado de ser quem era, para ser o que ninguém jamais saberá descrever pois fora um personagem de uma estranha vontade em se abster de ter de sofrer com as críticas, com os erros, com os julgamentos. Haveria ela cometido suicídio e de forma tão explendida tê-lo feito com tanta maestria que ninguém percebeu sua ausência. Ela se atirou do último andar de uma vida, para cair no precipício dos que não possuem dúvidas e vivem na certeza de que silenciar é melhor do que gritar; se esconder é melhor do que aparecer; e viver é tarefa para quem não é covarde.
Ela se olhava no espelho e implorava por coragem (...)

18:10

- - -Pouco

Ela vivia de poesias, tantos sentimentos, havia tanta magia...

Mas a vida lhe chamou para a realidade a qual descrevia como maldita.
Em suas prosas e versos, rimava descontroladamente o que temia, se perder de sua vida,essa rotina, essa tristeza por não mais viver as ilusões que criava em seus textos, em suas frases eloqüentes, imagens que se desfiguravam e remontavam, quisera ela conseguir restaurar tudo aquilo que sentia.
Essa loucura era por ela desconhecida, está perdida, mas está sedenta, aprendendo com o que pode, e o que não pode, faz de conta que está tudo bem, para seu próprio bem de viver em paz, um dia talvez.

01:59

- - -Desaparecida

Ela tem sentido saudades, tem ficado em seu canto e pensado sobre coisas que havia se esquecido já tem muito tempo. Não se deu conta do quanto tudo mudou, não percebeu o quanto já não é a mesma, e mesmo assim insiste cometendo os mesmos erros, aceitando o inaceitável, e vestindo as mesmas velhas roupas, como se fossem sua única proteção, para justificar por que tudo mudou, mas nada está fora do lugar como deveria estar. Conservando os detalhes desnecessários, ela segue tentando entender por que se esconde por detrás de seu medo inconsciente, covardia maior é não assumi-lo e se livrar dele, e dar um basta em tudo, em tudo. Do começo ao fim, e recomeçar sem medo de errar novamente.


Olha no relógio sentindo cada segundo lhe pulsar como se fosse o último e a sensação de abandono, jamais lhe abandona, o mundo está girando e ela está no centro de tudo, sozinha, assistindo as cenas acontecerem como em um filme monocromático. Dramático.

Ninguém mais tem notícias, sabe-se que ela ainda existe em algum lugar, que talvez somente ela conheça, algum vale secreto, dentro do seu vasto universo, ela continua lá viva, esperando o seu momento, vivendo da esperança, sentindo a quase morte, talvez tudo seja apenas uma questão de sorte, e ela mantém seu trevo de quatro folhas sempre por perto, com a segurança, de que o incerto ainda virá lhe despertar. Ela já não teme a solidão, tampouco a escuridão, é na luz, com todos os seus defeitos e dramas, onde ela tem medo de se mostrar.

Hoje é apenas uma desaparecida, perdida. Tentando se encontrar.

16:23

- - - Subjetiva

Faz parte de tudo aquilo que eu não sabia que existia, é móvel e rápido. E a velocidade tem me assustado de uma forma que somente eu sei. Ser tudo, talvez seja uma forma de não ser nada, indefinido, extenso e tenso. Por mais que se fuja, é preciso definir quem se é, e o que se quer, e fazer escolhas, nunca foi e nem será uma tarefa fácil, pois dizer um sim, pode significar a mudança de toda uma vida, de todas as suas perspectivas, ou talvez o desatino que desencadeará erros sequentes, por uma idéia vaga e ilusória.


As tranformações fazem parte do acaso, mas o fato é que escolhemos quem seremos, e o que viveremos, e tudo isso acontece muito rápido. Ontem você era uma criança, e quando deu por si, a vida já estava lhe mostrando sinais da vida adulta, suas bonecas jogadas no canto e em cima da sua cama, as cartas escritas para o seu primeiro amor, e por consequência sua primeira decepção e depois disso acreditem, você está prestes a entrar na vida adulta, e desta você só sairá quando findar a sua vida por aqui.

E crescer é uma tarefa difícil, arriscada propensa a lhe fazer perder o brilho, e as paixões que acreditava ter.
É preciso ter equilibrio para andar na corda bamba da vida, ser realista e firma, mas sem perder a graça,manter aquela ânsia por cada passo dado, mas se escorregar e depois se levantar não sentir medo e ficar atento demais que não possa nem sequer por um momento, brincar.

É preciso se manter na linha, mas é preciso fazer a corda balançar para sentir emoção, sentir tesão, e não desanimar.

É preciso gostar das emoções, e sempre se apaixonar. Fazer da vida uma aventura, onde você seja o protagonista da sua história, da sua trilha, da sua corda. Correr o risco com alegria, sentir o medo e depois conseguir se livrar. Para estar vivo é preciso se emocionar!