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- - - Espelho da verdade

Inerte a se observar, olhos no espelho, olhos atentos em si, eram tantos os pensamentos que por mais que tentasse não conseguia desviá-los. Já fazia um certo tempo que não se interrogava, e esta era uma tarefa mais do que necessária para tentar entender até qual ponto tudo que se tem feito, tem feito algum sentido. As escolhas que fazemos só devem nos levar a um sentido, a direção deve ser a evolução enquanto seres, e se não for assim, é melhor dar um basta e repensar em tudo, mesmo que isso não seja muita coisa. Ela ainda se observava com os olhos sedentos para saber sobre si, mas as questões a serem levantadas ainda estavam presas em sua garganta, junto com o choro que estava teimando em brotar em seus olhos nitidamente vermelhos de vida.

Parada entre o espaço da pergunta e o medo da resposta. Os olhos sedentos. Lágrimas que não mais tímidas escorrendo por seu rosto novo.
Quais seriam as perguntas, ela já não mais as sabia, as engoliu junto com o nó que estava na garganta e se soltou, sim ela chorou, o choro mais sincero de toda a sua vida, angustiado, desesperado, clamando por si, chorou sem ninguém ouvir. Essas lágrimas, só ela sabia mas eram as respostas para tudo o que mais temia. Ela só conseguia sentir, o peso de ter sido quem deveria e não quem queria, chorou destemida como nunca mais fez desde quando resolveu se tornar alguém simples demais para ser entendido por qualquer pessoa, ela optou por se fazer entender, e não mais ser entendida, mas agora, ao olhar no espelho, se sentia perdida, sem compreender o que via, era apenas um rosto com lágrimas que diziam mais do que qualquer outra expressão de si. Havia passado algum sorriso sincero por ali?
Haveria ela amado com o fervor de um apaixonado? Haveria ela chorado todas as vezes que precisou? Haveria ela se calado tantas vezes que queria ter gargalhado? Haveria ela existido ou apenas vivido como alguém que não terá mais do que uma medíocre missão. Ser mais uma entre milhões, ser um ser sem alma, sem liberdade, sem história. Haveria ela deixado de ser quem era, para ser o que ninguém jamais saberá descrever pois fora um personagem de uma estranha vontade em se abster de ter de sofrer com as críticas, com os erros, com os julgamentos. Haveria ela cometido suicídio e de forma tão explendida tê-lo feito com tanta maestria que ninguém percebeu sua ausência. Ela se atirou do último andar de uma vida, para cair no precipício dos que não possuem dúvidas e vivem na certeza de que silenciar é melhor do que gritar; se esconder é melhor do que aparecer; e viver é tarefa para quem não é covarde.
Ela se olhava no espelho e implorava por coragem (...)

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