02:09

- - -Valentina




Sentiu o vento tocando seu rosto, e a sua pele, arrepiava-se, caminhava tranquila por entre as ruas de um bairro amigável, de ruas largas e arvorizadas.

Havia um suave frescor em seus pensamentos, deleitava-se em contentamento, sentindo sua existência branda e fugaz, mas isso não lhe causava tormento, era suave seu existir, e sentia por entre seu corpo, percorrer um leve ardor de paixão por si, tremendamente apaixonante.

Observava misteriosamente os transeuntes, que lhe cruzavam o caminho, traziam lânguidos semblantes, causava-lhe certo espanto, passou a imaginar os ímpetos do destino que atormentavam e desviam a felicidade de cada um que cruzava seu caminho, por um dia ao menos, era capaz de não ser egoísta e avaliar o que estava além de si.

Continuava a caminhar desprenteciosamente por um caminho jamais feito em sua rotina, crianças e seus sons de infância, gritos, risos e murmurinhos. Senhores e senhoras, sentados em suas cadeiras debruçados em suas histórias, desfrutavam de mais uma manhã de sol.

Era estranho o dia, acostumada com a noite figurando devaneios secretos, o sol, não lhe concebia inspiração, ou imaginação, também pudera, quase não o conhecia, mas por hoje, resolvera, vivê-lo e conhecer as horas que se seguiam iluminadas, aparadas por sonhos ainda verdes, por ilusões resplandecentes, como dissera, para si, ela estranho o dia...

Tendo sua visão ofuscada pelo brilho do sol que já não mais cabia no céu de tão grande, tomou a rua oposta ao bairro, indo em direção ao centro da cidade, passos curtos, largados. Carros passavam com sua rapidez agoniante, havia por hora o som da adolescência, risos e mais risos, apelidos, incoerências, sons que passavam desapercebidos, na transição da calmaria para o burbulhão de afazeres e emoções diárias do mundo pulsante. A adolescência, passara em frente de um colégio, garotos e garotas, variando seus destinos, e se encontrando nas esquinas sorrindo, músicas ao fundo, em plena luz do dia, onde tantos viviam calmaria, eles perpetuavam uma semente da noite libertina, convidando os que os observavam silenciosamente para dançar e brindar a vida, que ainda estava sendo descoberta, beijos, abraços, bocas e sonhos. Realidades destruídas talvez, mas seus sons, sempre denotavam esperança.

Seu caminho seguia, agora imbuída do sentimento do desconhecido, ou do esquecido, atormentada por jamais ter se permitido tamanha loucura. Jamais ter experimentado uma viagem tão simples e próxima que não lhe custara nada, apenas a disposição de seu corpo, e de seus sentidos. Respirou profundamente o ar e mal o sentia poluído, era como se tudo houvesse tomado um tom diferente, e a música que ritmava sua vida, houvesse mudado seu ritmo, e agora não mais, levada por seus tons eletrônicos, pulsantes, da música contemporânea, permitia-se, dançar ao som, de uma suave melodia clássica...

...Caminhava,
envolvida por uma vida esquecida, julgada desconhecida.

Passeava por seu passado, e admirava seu futuro, e as possibilidades de vida. Estava em um labirinto mas não estava perdida, apenas não sabia a exatidão da saída, e continuava percorrendo as veias de uma pequena cidade, cheia de deleites e emaranhados sentimentos guardados, para quem os quisesse sentir.

Aguardava sem pressa o momento certo de atravessar uma avenida que dividia a cidade em duas metades, esperara o sinal vermelho, para que pudesse atravessá-la, estaria deixando novamente para trás tudo que a fizera sentir-se viva, tinha certeza que isso jamais aconteceria, e que dali em diante, cada novo dia, faria um caminho diferente, entre o passado, e lugares onde pudesse imaginar seu futuro, instantes duradouros, sinal verde, para a vida.

É o presente, som de buzinas, gente falando, a cidade não mais adormecida, respirava e despertava para seguir seu dia, realista, otimista, sabendo que tudo é muito mais do que parece, que existe beleza, e que o tempo cordenado, potente, mentiu. O caminho é longo, os dias são longos, e existe tanto a se conhecer, e que é imprescindível não se esquecer de reviver as quimeras que no passado existiam, e perpetuar os sonhos alimentando a beleza de existir, atrevessou a rua contente, entrou em um prédio, subiu 22 andares em um elevador moderno, adentrou um escritório com o ambiente tomado por um ar gélido, sentou à sua mesa, despiu sua sala, abrindo as cortinas, e avaliou, o quão grande é o espaço que a cerca, jamais aceitaria o fato de não conhecer tudo que podia, o mundo a esperava ao pôr-do-sol, o dia seguiria, sem mais rotinas, haveria a noite que já a incitava pelas suas supresas...

...E ao fim a certeza, de que haveria outro dia, outra vida, outra Valentina.



2 comentários:

Camilla M.de Godoy disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Camilla M.de Godoy disse...

Nossa Day temos sintonia literária mesmo,hein!
Lindo texto que mostra as poucas vezes que olhamos pra vida,olhamos pra trás e vemos que nisso ainda há um pouco de nós todos.
Como em "Neverland" E "Valentina",todos nós temos,todos os dias a chace de revitar e até mesmo reconhecer partes de nossas vidas que foram esquecidas,mas a maioria não percebe e nem quer fazer,porque esses esqueceram de vez o que era ser de verdade,se imacularam com o mundo e seus fúteis prazeres,mas a vida é assim um são o que outros não são,uns veem o que outros não conseguem ver.

Lindo texto,leve de uma forma que nos faz crer que a máquina d e ir de volta para o passado existe,basta dar uma volta e revisitar a si mesmo!


Beijão!