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No alto da escada da vida, ao menos por um dia


Hoje não quero mais do que o vazio. Não desejo mais do que o descaso e o esquecimento.
Quero ser apenas eu, dona de mim. Coisa que não sou faz tempo, talvez eu não saiba como ser, mas certas coisas, são fáceis, juro por mim e pelo menos por hoje, que vou aprender.

Desde que me levantei estou buscando o silêncio eloqüente do neutro, a pasmaceira do dia. Que inquieto vai acontecendo, e eu hoje quero assisti-lo indo, da minha poltrona, que pode ser a pior, mas é dela que hoje quero me deliciar com a vida inerente à mais um simples dia.

Simplesmente acontecendo, como eu aconteço, a medida dos dias, que através do que estabeleceram(o que não fui eu, pois não o faria), se transformam em semanas, depois meses e anos. Essa relação de espaço e tempo, é uma grande e imbecil afirmação de que em algum momento se têm algum controle, sobre isso que chamamos de vida(temos controle sobre o relógio, suas pilhas e baterias, apenas). Hoje eu também quero o descontrole, quero me perder no espaço que tenho como vida, e vivê-la como se deve, sem denominar nada e tampouco chama-la de minha.

Estou sentindo o despertar do que por anos e anos e anos, dormia. Eu acordará somente hoje, neste simples dia, que decidi ser dona de mim, acordei chorando como que acabando de sair do ventre de minha querida mãezinha, abrindo os pequenos olhos para o mundo, mas carregando comigo uma alma repleta e imensa, sedenta, por tudo que é vida, sem buscar denominadores comuns, querendo beber da fonte de sangue que pulsa mais amor-amor e mais vida.

Hoje eu quero ser apenas eu, ser tudo. Viver o tudo que está no nada, no silêncio, nas vozes, sendo dia ou madrugada. Quero viver o que realmente é vida, vinda da fonte de água e sangue, a essência divina.Minha humanidade. Minha divindade. Neste presente vivido, sendo fundidas, transformando-me no que quero e devo ser, no que já poderia ser e não conseguia.
Hoje quero ser eu, a própria vida.

1 comentários:

Marcelo Novaes disse...

Oi, Priscila!

É interessante essa "sede", porque ela é apresentada, por vezes, de forma tão "calma", tão "equânime" ( "o que vier, eu traço"...), que mais se parece se colocar num estado meditativo, "no centro neutro do furacão", no olho imóvel do furacão, para usar uma imagem bem próxima dessa escada-espiralada escolhida como imagem para o texto. Apesar de tanta sede e ardor, em certo momento, algo na narrativa parece optar por esse segundo estado que eu descrevi. Por ambos?!

Tu o sabes...



Beijos,


Marcelo.