Todo dia ao acordar, vejo o lindo dia que se esconde por de trás de minha janela fechada para que a noite dure mais tempo, não gosto de acordar cedo, não gosto do desespero por se encontrar com a rotina maldita.
Todos os dias os apaixonados saem de suas casas para cumprir com suas missões esquisitas. A vida poderia ser mais do que passar horas do dia no trânsito, amassados em meios coletivos de transporte. Falta educação, falta sorte, para mudar a vida, para sair da rotina, sobra medo do desconhecido, e não nos resta nenhuma aventura para viver, além da aventura diária de trabalhar e viver, por uma ideologia que nos foi vendida a 1,99.
Estamos correndo contra o tempo, para bater o ponto na empresa, que não nos quer, mas que por enquanto precisa, as máquinas já estão ligadas, e as tecnologias inventadas, para que pouco a pouco sejamos substituídos e quando chegar a hora sermos demitidos, por um processador milhares de vezes mais rápido do que a nossa capacidade de executar 10 funções ao mesmo tempo, aflitos, com medo, subordinados de nós mesmos.
Está sobrando ausência, está faltando presença. Passamos desapercebidos pelo mundo, tratados e ignorados como cães com suas almas dilaceradas. Não temos a sorte de sermos milionários, ou de sermos tão desapegados a ponto de vivermos apenas de amor, perambulando e conhecendo o desconhecido mundo que se esconde além do itinerário do ônibus que nos leva de casa para o trabalho, e do trabalho para casa. Saímos as 6:00 da manhã, chegamos as 21:00 da noite cansados, exaustos. A máquina também precisa de repouso, afinal, com pouco tempo, ela vai ficando gasta, ultrapassada, e vamos nos esforçando cada vez mais para cumprir com a nossa rotina maldita.
Vai ser difícil suportar quando as engrenagens começarem a emperrar. Quando o cansaço for tanto que não for suportável, vamos nos acomodar ao fato de termos feito aquilo que nos era possível, que nos era preciso, sem mais uma função, vamos definhar e acabar encostados como máquinas velhas sem função alguma, relembrando os bons tempos...
...Morreremos lembrando o que fazíamos, e sonhando com o que não tínhamos tempo de sonhar, e talvez aí, no fim da rotina, não de um dia, mas de uma vida, saibamos que seguimos o caminho errado, trabalhamos na linha de produção errada, produzimos o mundo, o consumo desenfreado que nos consumiu sem pudor algum, nos usando como ferramentas para o seu progresso decadente de pessoas doentes, condicionadas a não saberem o que é viver, sentir e sorrir, de forma livre, entendo realmente em que consiste o verbo existir.
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